segunda-feira, 11 de outubro de 2010

POR QUE?

Por que, cargas d'água, não se pode desistir sem o medo?
Não se pode ter medo sem ser fraco?






É DO TEMPO QUE AINDA TENHO
A PRESSA QUE NÃO ME CABE.
É PRETÉRITO IMPERFEITO
SE FAZENDO TEMPESTADE.

POR M.A.C.


Há quase uma década deu-se o grande conflito: todo o meu futuro destruído por uma mulher. Refugiei-me no campo e desde então vivo solitário, perdido em minhas alucinações e sentimentos de culpa.
Lembro-me ainda com detalhes daquela noite de Ano Novo em 1893. Divertia-me em um baile rodeado por belas moças e rapazes de boa vida quando conheci Beatriz. Num gesto de educação inclinei-me para apanhar duas moedas que haviam caído de delicadas mãos. Aquelas mesmas mãos agradeceram-me, impressionando-me ainda mais com seu doce jeito. Seu comportamento e sua beleza exuberante chamavam-me atenção e, assim, prometi a mim mesmo ficar ao lado daquela moça por toda a vida.
Jantares, visitas, o namoro e casamento. Era o mais feliz entre os homens. Sentia-me extasiado ao pensar possuir a mais amiga e carinhosa mulher.
Os anos, porém, passaram e Beatriz já não era a mesma nem sequer me dedicava a atenção necessária.Andava só pelas ruas, frequentava teatros e restaurantes sem a minha companhia. Já não fazia questão de ter-me ao seu lado. Foi em uma de suas saídas que, incomodado e inquieto, resolvi seguí-la. Passos rápidos e olhares desconfiados. Beatriz angustiava-me mais a cada minuto. Após varias quadras percorridas, aqueles meus olhos intrigados viram minha esposa aos beijos com um jovem rapaz. Aquilo bastou-me. Já nada mais podia ouvir nem sequer aceitar. Movido por grande ódio, consegui o revólver que mataria o adúltero casal. Tudo ocorreu em instantes: num ímpeto de desespero não pensei e, sacando da arma, disparei quatro tiros em meu inimigo. Beatriz não; Não pude encostar nem mesmo minhas próprias mãos naquela
 pecadora.
Voltei depressa àquela que já não era mais minha casa, recolhi alguns pertences de maior importância e embarquei no primeiro trem. Vivo, hoje, em uma pequena propriedade, refugiado em meio aos remorsos, esperando que a morte venha ao meu encontro para livrar-me dos tormentos deixados por um crime de amor.   (Marco Antonio Covielo)

sábado, 4 de setembro de 2010

PRA VOCÊ




Pra você
(03/06/2010)

Não quero os sonhos de um amor perfeito
Quero todos os defeitos
Pra me encantar a cada dia
Quero teus olhos e teu olhar profundos
Teu sorriso que me guia
Ser a tua poesia, a metade do teu mundo.

Não quero os sonhos de um amor sonhado
Quero vivê-lo acordado
Quero tua pele sentir
Acordar e tê-lo ao meu lado
Ser teu riso e ser teu canto
Fazer de mim tua menina
Entregar-me ao teu encanto.

Não quero os sonhos de um amor pequeno
Quero o teu beijo sereno
Teu abraço para dormir
Encontrar-te em meus desejos
Desenhar os teus segredos
Dar-te o céu para colorir.

sábado, 26 de junho de 2010

ÀS VEZES, ASSIM.



ÀS VEZES SINTO COMO SE GOSTASSE SOZINHA.



E DÓI.

COTIDIANO


Por que é que não confia em mim, Inácio?
Tornava a repetir insistentemente como se a confiança importasse bem mais que todo aquele amor que ele dizia sentir por ela. E talvez importasse mesmo.
De que adianta gostar de mim e esconder uma parte do que realmente é? Deixe-me conhecer você, poxa! Clarissa chorava como criança enquanto implorava a verdade daquele menino.
Sinceridade? - dizia Inácio. Sou sincero quando digo que gosto de você, quando a abraço e lhe entrego meu calor, quando a olho nos olhos, quando me revelo todo em nossos beijos doces doces. Isso não lhe importa?! Que mais quer menina? Queixa-se à toa. Vive a fazer drama por coisa pouca. Deve ser estas tuas amigas sentimentais... um bando de 'manteigas derretidas'.
De um lado para o outro Clarissa andava, inquieta, inconformada até com o jeito do menino. Gesticulava com as mãos e colocava-se a pensar em alguma solução. Não gostava de brigar com ele; Sequer suportava a ideia de implorar por um pouco do seu amor. Mas era carente! Queria todo o tempo que o mundo estivesse com os olhos vidrados nela. Agora, queria apenas os olhos de Inácio, mas o tempo todo. Queria suas risadas sinceras e ouvir todo aquele monte de besteiras que ele insistia em não contar, porque a menina não precisava ouvir. Claro que precisava. Ela o queria completo e se isso incluísse as besteiras nunca ditas a ela, que as dissesse. Ela até ignoraria se não gostasse, mas tinha de ouvir. Saber das besteiras que Inácio dizia também era conhecê-lo, ainda que de forma maliciosa.
O amor também é bom quando se faz malícia - pensava.
Ela até gostava quando o rapaz a olhava e sorria de canto de boca, com os olhos... Nestas horas, sentia-se desejada, tomada daquela malícia boa, gostosa de sentir, daquelas que fazem as pernas tremerem. A menina queria isso: sentir-se viva e ser a vida de Inácio.
Como é que ele não conseguia entender? Coisa tão fácil, tão simples, Deus meu!
Não chora menina; Não gosto de te ver assim. Não precisa se lamentar, estou aqui não estou?!
Mais não quero assim. Não me entende mesmo né?
Para de ser chorona! Assim só me aborrece.
Aborreço-o então quando falo das minhas tristezas, das minhas vontades? Bom saber!
Tristeza Clarissa? Só você menina.
Tentava abraçá-la, mas ela era dura, garota difícil que só. Fugia, desviava daqueles braços que queria colados ao seu corpo. Tinha de se fingir durona porque ele precisava acreditar, ainda que soubesse lá bem no fundo que fosse mentira, que quem mandava era ela. Coitada! Bastava um beijo, aquele abraço forte tomado meio à força, aqueles olhos nos olhos cínicos do menino para ela derreter-se toda. Beijava-o e chorava, chorava... Iam assim mais uma noite: eram beijos de lágrimas. Lágrimas em meio a beijos. Beijos de desejo.
Deixa-me conhecer você inteiro, Inácio...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

ANABELA


Era sempre ela e ela sempre só.
Não gostava da ideia de estar rodeada de pessoas chatas, sem sal e sem açúcar, gente tosca e babaca. Desinteressante,que é pra não deixar de lado e 'velha diplomacia.'
Pertubava-lhe a certeza de saber que era vaga. Todo o dia e o dia todo cercada pelo nada, aquele nada de não ter a quem amar. Era órfã do amor e disso ela sabia. Aquela filha abandonada sem dó nem piedade, dada ao mundo pra que a vida lhe dissesse, ainda que não fosse grande gente: é só você e se contente!
Tinha já seus vinte anos que não foram tão bem vividos. Vividos que nada! 20 invernos sobrevividos que dá primavera ela nem se lembrava. Nunca fora de reparar nem em sol nem em luz nem em mar. Para a menina sempre fora assim: estação permanente de frio e escuridão. Permanente estado de solidão.
Quando cismava e isso se dava em um dia da semana, metia-se num quase trapo florido porque as flores só mesmo em estampa. Deixava o conjunto quarto e sala de parede amarelada e sufocado apertamento. Era lá que Ana vivia e insistia chamar de apartamento.
Colocava-se a caminhar. Rua 05 da Estação a passos lentos. Toda quinta a mesma vida; Toda quinta e toda vida: da humilde residência ao metrô de ligeireza espantosa.
Era a máquina de sonhos para a pobre AnaBela. Da janela via um mundo quem nem era o dela, que nem dela era.
Era o mundo pra menina-moça do vestido de rosas.
Era a rima. A poesia. Era a prosa.

domingo, 9 de maio de 2010



"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."  (Clarice Lispector)

sábado, 17 de abril de 2010

COISA POUCA QUE É PRA NÃO ASSUSTAR


Das vidraças do trem ele via o mundo. Sempre fora assim: a vida toda sem parada.
Novo dia e uma nova estação, um amontoado de gente diferente, sotaques de um povo que como ele davam duro na vida.
A necessidade fizera dele um errante e ele deixara há muito de resistir; Era passivo da dor de não ter o seu lugar e a sofria dia após dia.
Queria poder voltar pra casa. Não queria muito - aliás, ele não queria era nada. Apenas um chão pra deitar e dizer que era seu.
Sonhava sim e o dia todo. Uma portinha, uma janela, um telhadinho de zinco. Uma geladeira com alguns potes d'água, um fogãozinho. Uma patroa, uns três filhinhos e uma bicicletinha velha pra arrumar emprego.
Era isso e isso tudo bem pequenininho porque não tava acostumado a coisa grande.

domingo, 11 de abril de 2010


A bailarina girava, girava no ar
O vestido rosa e drapeado parecia voar
Os cabelos, presos numa tiara faziam da menina, princesa
Tamanha era sua delicadeza que se fundia aos movimentos dos braços, dos passos
O mundo todo parava pra olhar
Bailarina dos pés descalços
A menina sem sapatilhas
Roda, roda, roda menina
Vai buscar teus sonhos
Vai sonhar mais alto que o salto de bailarina.





Eu conto. Não canto.
Conto nos cantos
As cores, sabores e flores...
Eu conto nos cantos
Meus contos de dores.