Por que é que não confia em mim, Inácio?
Tornava a repetir insistentemente como se a confiança importasse bem mais que todo aquele amor que ele dizia sentir por ela. E talvez importasse mesmo.
De que adianta gostar de mim e esconder uma parte do que realmente é? Deixe-me conhecer você, poxa! Clarissa chorava como criança enquanto implorava a verdade daquele menino.
Sinceridade? - dizia Inácio. Sou sincero quando digo que gosto de você, quando a abraço e lhe entrego meu calor, quando a olho nos olhos, quando me revelo todo em nossos beijos doces doces. Isso não lhe importa?! Que mais quer menina? Queixa-se à toa. Vive a fazer drama por coisa pouca. Deve ser estas tuas amigas sentimentais... um bando de 'manteigas derretidas'.
De um lado para o outro Clarissa andava, inquieta, inconformada até com o jeito do menino. Gesticulava com as mãos e colocava-se a pensar em alguma solução. Não gostava de brigar com ele; Sequer suportava a ideia de implorar por um pouco do seu amor. Mas era carente! Queria todo o tempo que o mundo estivesse com os olhos vidrados nela. Agora, queria apenas os olhos de Inácio, mas o tempo todo. Queria suas risadas sinceras e ouvir todo aquele monte de besteiras que ele insistia em não contar, porque a menina não precisava ouvir. Claro que precisava. Ela o queria completo e se isso incluísse as besteiras nunca ditas a ela, que as dissesse. Ela até ignoraria se não gostasse, mas tinha de ouvir. Saber das besteiras que Inácio dizia também era conhecê-lo, ainda que de forma maliciosa.
O amor também é bom quando se faz malícia - pensava.
Ela até gostava quando o rapaz a olhava e sorria de canto de boca, com os olhos... Nestas horas, sentia-se desejada, tomada daquela malícia boa, gostosa de sentir, daquelas que fazem as pernas tremerem. A menina queria isso: sentir-se viva e ser a vida de Inácio.
Como é que ele não conseguia entender? Coisa tão fácil, tão simples, Deus meu!
Não chora menina; Não gosto de te ver assim. Não precisa se lamentar, estou aqui não estou?!
Mais não quero assim. Não me entende mesmo né?
Para de ser chorona! Assim só me aborrece.
Aborreço-o então quando falo das minhas tristezas, das minhas vontades? Bom saber!
Tristeza Clarissa? Só você menina.
Tentava abraçá-la, mas ela era dura, garota difícil que só. Fugia, desviava daqueles braços que queria colados ao seu corpo. Tinha de se fingir durona porque ele precisava acreditar, ainda que soubesse lá bem no fundo que fosse mentira, que quem mandava era ela. Coitada! Bastava um beijo, aquele abraço forte tomado meio à força, aqueles olhos nos olhos cínicos do menino para ela derreter-se toda. Beijava-o e chorava, chorava... Iam assim mais uma noite: eram beijos de lágrimas. Lágrimas em meio a beijos. Beijos de desejo.
Deixa-me conhecer você inteiro, Inácio...