segunda-feira, 24 de maio de 2010

ANABELA


Era sempre ela e ela sempre só.
Não gostava da ideia de estar rodeada de pessoas chatas, sem sal e sem açúcar, gente tosca e babaca. Desinteressante,que é pra não deixar de lado e 'velha diplomacia.'
Pertubava-lhe a certeza de saber que era vaga. Todo o dia e o dia todo cercada pelo nada, aquele nada de não ter a quem amar. Era órfã do amor e disso ela sabia. Aquela filha abandonada sem dó nem piedade, dada ao mundo pra que a vida lhe dissesse, ainda que não fosse grande gente: é só você e se contente!
Tinha já seus vinte anos que não foram tão bem vividos. Vividos que nada! 20 invernos sobrevividos que dá primavera ela nem se lembrava. Nunca fora de reparar nem em sol nem em luz nem em mar. Para a menina sempre fora assim: estação permanente de frio e escuridão. Permanente estado de solidão.
Quando cismava e isso se dava em um dia da semana, metia-se num quase trapo florido porque as flores só mesmo em estampa. Deixava o conjunto quarto e sala de parede amarelada e sufocado apertamento. Era lá que Ana vivia e insistia chamar de apartamento.
Colocava-se a caminhar. Rua 05 da Estação a passos lentos. Toda quinta a mesma vida; Toda quinta e toda vida: da humilde residência ao metrô de ligeireza espantosa.
Era a máquina de sonhos para a pobre AnaBela. Da janela via um mundo quem nem era o dela, que nem dela era.
Era o mundo pra menina-moça do vestido de rosas.
Era a rima. A poesia. Era a prosa.

domingo, 9 de maio de 2010



"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."  (Clarice Lispector)