sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

MORTE - VIDA INSANA


Bati a porta implorando a certeza de que o mundo ficaria lá fora. Atirei-me no sofá marinho e surrado como se atira pedras ao fundo de um poço. Era um corpo frio, já morto e anestesiado pela podridão das dores. E lá dentro apenas eu. Meu eu que, naquela noite, nem me pertencia mais. Desejava a escuridão como companhia; A falta de luz sempre me fascinou. Era extasiante ver a cor negra das trevas já penetrando em mim. Fechei os olhos, buscando no inconsciente a perda total dos sentidos. Queria o nada e queria-o agora. Abri os olhos, numa luta contra meus próprios delírios e contra a realidade nua e crua e cruel daquele lugar, dos móveis de madeira escura e fria ao meu redor, dos densos devaneios que me atormentavam... Insana, insana vida! Tranquei-os. Tornei fechar meus olhos, desta vez com o pouco que ainda restava-me das forças, afim de exterminá-las. Vi a escuridão e seus monstros e meus monstros. Desejava-os. Rogava pra que tomassem aquele meu corpo sujo e largado.Via seus dentes negros e afiados. Negros e afiados. Vinham e se faziam cada vez mais próximos. E eu tremia e desejava-os. Aquele medo do desconhecido e feio, do sem luz e mau atormentava-me. Aquele medo excitava-me. E eu tremia e gemia e meus gritos suados e vermelhos queimavam de febre e faziam meu sangue percorrer minhas grossas veias cada vez mais rápido. Minhas batidas pulsavam na frequência de um furacão. Devastavam-me. Meu sangue jorrava. Vermelho vivo e quente e cheirava a podre. Agora, eu chorava. Insana, insana vida! Minhas lágrimas queimavam. Ardiam feito fogo. Chumbo, tinham a cor do chumbo; Pesado, escuro e denso. Domina-me! - Eu gritava ainda mais forte. Tremia e o sangue jorrava. Fazia rios em mim. E os monstros voltavam e iam e voltavam. Suas bocas largas pareciam engolir-me Sopravam tempestades e eu relampejava. Pedia por raios, faíscas, trovões... Pedia por fim, por morte, por mim. Clamava por vida... Outra vida!